Eu romantizando?

03 de outubro de 2025

Recentemente eu criei uma conta no TikTok que tem dado o que falar. Completei 1.000 seguidores nessa rede esses dias, mas recebo comentários ofensivos desde as primeiras semanas. Já li muita coisa. Que eu não sei o que é melhor para mim. Que eu estou enganada sobre o que eu quero para a minha própria vida. Que eu não sou feliz. Que eu vou me arrepender. Que eu vou morrer sozinha. Que eu sou inteligente demais e engano meus clientes, afinal, eles só saem comigo porque eu "exploro" eles. Sim, já me disseram isso lá! Que eu romantizo demais a minha experiência, ah, esse comentário aparece aos montes! Eu que sou romântica demais e não olho os fatos. Esses dias um comentou "respeitar tudo bem, agora romantizar a putaria aí já é demais". Eu bem que aproveito esses comentários para me dar conteúdo. Às vezes não é fácil estar internet, por vezes ficamos pensando "o que vamos publicar?". Os haters sempre me dão novas ideias e movimenta o meu perfil.


São muitos ataques. É quase que na maior parte do tempo eu recebo mais ataques do que qualquer outra coisa. Eu já sabia que isso ia acontecer, pois sou muito polêmica e não abro mão disso. Não vim para agradar, vim para que se questionem. Mas essas pessoas me fizeram me questionar. Por que uma mulher dizer que é feliz trabalhando com sexo é romantizar?


O meu discurso ofende. São séculos condicionando as mulheres para a negação do seu próprio corpo. Muitas mulheres nunca gozaram e nunca gozarão na vida. Minha avó foi uma dessas mulheres, ela nunca se sentiu plena no seu corpo nem na sua vagina. Minha avó nunca foi feliz como mulher, e quando meu avô morreu, lembro que ela ficou mais viva. Ela foi obrigada a se casar e viver uma vida de dondoca. Teve 7 filhos. Nunca transou porque quis. Minha avó passou 30 anos deitada em uma cama, agonizando de depressão. Isso deixou marcas profundas na minha mãe, que depois, na hora de me criar, passou para mim. Minha mãe também não se realizou totalmente como mulher. Ela é frustrada com o seu corpo e com o seu prazer. Minha mãe até gozou na vida, mas evita o sexo. Foi perdendo o tesão porque também se afundou em um casamento infeliz, do qual nunca conseguiu sair. E eu? Quase repeti todas essas histórias.


Nasci no século 21, o auge da modernidade, mas tive uma criação muito severa e pautada no corpo. Meu corpo sempre foi um problema na minha casa e eu acabei pegando raiva dele. Na adolescência, aprendi a me mutilar para passar o tédio e aliviar a dor. Quando me tornei adulta, passei a tentar suicídio, machucava o meu corpo com álcool, cortes, drogas e remédios. Eu me batia algumas vezes, arrancava meus cabelos e fazia feridas no meu corpo. Fui parar no hospital uma dezena de vezes e, algumas, entre a vida e a morte. Eu quase morri. Quase enterrei o meu corpo pelas minhas próprias mãos. Enquanto eu fazia tudo isso, nunca tinha gozado na vida e também me agonizada de depressão, tal qual a minha avó. Quase me afundei em relacionamentos com pessoas que se tivessem topado ficar na minha vida, também viveria um casamento infeliz, como o que minha mãe tem.


Mas eu fui maior que toda a dor que me acompanhava muito antes de eu nascer e fui me libertando sozinha dessas amarras que me faziam infeliz. Depois de me curar muito, entendi que eu tinha uma grande questão com o meu corpo e precisava cuidar disso. Decidi que em 2025 a palavra do meu ano seria "corpo" e olhei para ele profundamente. Percebi que nunca tinha sentido prazer com o meu corpo e queria experimentar isso. Eu queria ter a chance de sentir prazer também. Eu me sentia errada, achava que não era digna disso. Achava que meu corpo não era feito para isso. Talvez minha avó pensava isso do corpo dela também. Então eu me dei uma chance e com essa chance fiz um ofício. Eu gostei tanto de sentir prazer que queria sentir cada vez mais. Meu corpo que só conhecia a dor ficou vislumbrado com a possibilidade de se deliciar. Eu estava terrivelmente feliz por ter descoberto isso. Eu estou terrivelmente feliz. Eu sou feliz com a profissão que escolhi para mim porque ela tem um sentido muito profundo na minha história. É permitido a gente ser feliz em qualquer profissão, menos na de garota de programa. Julgam você como errada e burra. Já me falaram várias vezes no TikTok que eu "não estou pensando certo", como se eu não fosse capaz de ter pensamento próprio.


Como se não fosse possível uma mulher ser feliz dando e recebendo dinheiro para isso. Para mim, fazer sexo é uma das coisas mais importantes do mundo. É uma prioridade. Como uma médica tem como prioridade tratar pessoas. Mas ainda é absurdo uma mulher gostar de ter prazer. Provavelmente se eu contasse para a minha avó que sou acompanhante, ela me julgaria. Ela não gostaria que eu estivesse nesse caminho. Mas a minha avó nunca se conheceu, nunca se olhou como mulher. E, para mim, essas pessoas que me julgam também não se conhecem. Elas se ofendem tanto ao ponto de parar as suas vidas para me criticar. Eu causo dor nelas. Elas não queriam que eu existisse porque eu existir denota que elas precisam olhar para si. Eu incomodo. E como elas não querem olhar para si, me atacam.


Eu não preciso de uma história de dor para dizer o motivo de eu gostar de ser acompanhante, mas eu tenho uma história de dor que me leva a isso. Existem várias mulheres que gostam de ser acompanhantes porque gostam e não precisam de grandes motivos para isso. Mas eu tenho grandes motivos para gostar - e pequenos também! amo transar e adoro transar com vários homens -


"Ah, mas você devia se conter", já me disseram isso também no TikTok. A pessoa tem tanto problema interno que ela quer que eu me diminuía para ela se sentir confortável com ela. Pois eu não irei me diminuir. Amo ter prazer e ter dinheiro com isso. Não vejo sentido de não trabalhar com aquilo que amo se eu posso. Já me disseram "por que não faz de graça?", como se eu não pudesse me sustentar fazendo algo que faz sentido para mim.


Quando acaba os "argumentos", sobra "mas aí você está romantizando!" porque aparentemente é errado ser feliz sendo acompanhante.


Muitos esperam que eu seja uma coitadinha. Ninguém, por exemplo, salvou a minha avó e ninguém vai salvar a minha mãe. Existem milhares de mulheres que sofrem todos os dias e ninguém se importa. Mas quando você diz que é feliz sendo acompanhante todo mundo quer te salvar. Eu não preciso ser salva. Eu preciso ser respeitada.


Se "romantizar" é ver a vida da melhor forma possível, então eu romantizo. Só eu sei o que passei para chegar até aqui, comigo mesma e com o meu corpo. Que eu tenha o máximo de prazer possível e ganhe a vida fazendo aquilo que eu ame. E que eu enfrente o hater de cabeça erguida.

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